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O dia-a-dia de uma delegacia de Aracaju

Posted in Segurança Pública by micheletavares on 20/10/2009
4ª Delegacia Metropolitana, atende às regiões da Atalaia, Farolândia, São Conrado e Zona de Expansão. Foto: Ethiene Fonseca

4ª Delegacia Metropolitana, atende às regiões da Atalaia, Farolândia, São Conrado e Zona de Expansão. Foto: Ethiene Fonseca

Por Ethiene Fonseca

Quando se fala em delegacia de polícia, logo vem na mente das pessoas um local com pouca iluminação, um delegado mal educado, grande número de pessoas entrando e saindo: traficante, travesti, prostituta, menor infrator, etc. O medo de entrar em uma delegacia atrapalha o trabalho da polícia, o que é fácil de constatar nas estatísticas: cerca de 80% dos crimes contra o patrimônio não são denunciados.

Essa idéia de polícia é muito difundida pela mídia em geral, em especial através das telenovelas. Nesta semana, por exemplo, passou em uma novela da Rede Globo uma moça que foi levar comida para o seu namorado que tinha sido preso e o delegado foi bem grosseiro com ela, ajudando a construir essa imagem ruim do policial. Talvez essa seja a realidade de uma delegacia do Rio de Janeiro ou de São Paulo, mas com certeza não é a realidade de Aracaju.

Para começar, em uma mesma delegacia não podem ficar presos homens e mulheres, nem mesmo em celas separadas. Cada unidade fica responsável por manter apenas presos do mesmo sexo na carceragem, como é o caso da 4ª Delegacia Metropolitana, que atende somente presas do sexo feminino.

O dia-a-dia de uma delegacia é quase sempre o mesmo, a maioria das queixas prestadas é relacionada a furto, em geral de celular. Segundo a atendente da 4ª D.M., Rosemeire Prado, o seu local de trabalho é como um hospital, não há muita diferença entre um dia de trabalho e outro. “Lá eles recebem doentes, a gente recebe presos.”, essa foi a forma encontrada pela agente para explicar a sua rotina de trabalho.

A rotina de uma delegacia

Quando uma pessoa chega em uma delegacia qualquer para prestar uma queixa, ela precisa fazer um boletim de ocorrência, mais conhecido por B.O. Depois, a polícia vai verificar para ver se aquilo que foi dito é verdade ou não e se forem encontrados indícios de que o crime ocorreu mesmo, é instaurado um inquérito. O inquérito é uma ação tomada pela polícia investigativa que procura obter provas da prática de determinada infração, ou seja, é a busca por elementos que comprovem a veracidade dos fatos registrados pela suposta vítima. Basicamente esse é o trabalho da polícia civil: investigar crimes 

Mas, não é bem isso que acontece na prática. Segundo o delegado, Claudio Roberto Matos dos Santos, devido à falta de informação, a população acaba ligando para as delegacias de polícia quando acontece algum assalto ou outro tipo de crime. “Esse trabalho de ir para a rua e cuidar do bem estar população é papel da Polícia Militar. Mas, para não deixar a sociedade desamparada, as delegacias acabam deslocando os seus agentes para cobrir as ocorrências.”, explica.

A delegacia é composta por um delegado, um escrivão e os agentes de polícia, que se dividem em agentes de expediente e de captura. O delegado é o administrador, ele realiza um trabalho mais interno, voltada para a organização. O escrivão fica responsável pelos boletins de ocorrência, mas, segundo o delegado, como existe muito serviço a ser feito, alguns agentes de polícia também são designados para registrar as queixas.

Os agentes de captura desempenham um serviço externo, já os de expediente realizam um trabalho interno. Eles recebem os presos, fazem todo o acompanhamento, caso eles precisem ir ao hospital, por exemplo. Na verdade, os agentes de expediente trabalham das 7 da manhã às 7 da noite. E, quando o agente exerce sua função fora desse horário, ele é chamado de plantão, mas é o mesmo serviço desenvolvido pelo expediente.

Polícia e Sociedade

No início do mês de outubro, foi noticiado o caso de um policial que tinha apontado uma arma para um jovem, o que causou revolta da sociedade sergipana. O delegado explicou que a história contada pelos jornais e sites de notícia fugiu muito da realidade dos fatos, o que descontextualizou tudo. O policial em questão estava tentando separar uma briga entre meninos, jovens de 16 e 17 anos que estavam agredindo uma criança de dez. “Os meninos foram para cima do policial, que só conseguiu sair daquela situação quando sacou a arma e rendeu os adolescentes”, narrou o delegado. Alguns jornais da capital mostraram o depoimento da mãe de um desses jovens indignada com a situação, pois, segundo ela,o seu filho era um menino exemplar e o policial não tinha direito de fazer isso.

É ensinado na faculdade de jornalismo que a notícia não é o fato em si, mas um recorte da realidade. É mostrada apenas uma parte do que realmente aconteceu. Na intenção de vender mais, alguns jornais e revistas acabam optando por mostrar o lado que causa mais impacto, que vai atrair a atenção dos leitores. Nessa notícia veiculada nos meios de comunicação de Aracaju, a polícia foi tratada como culpada e o cidadão como vítima. As conseqüências foram graves para o policial envolvido no caso, ele foi afastado do cargo e está sob investigação. “Uma pessoa que nunca teve nada na ficha agora está com a vida toda revirada.”, comenta o delegado.

Essa maneira como o policial é tratado pela sociedade, sempre visto como culpado, é algo que atrapalha o serviço do policial e das delegacias, já que um dos problemas apontados pela Secretaria de Segurança Pública para explicar o baixo número de registros de queixas nas delegacias é a falta de confiança no trabalho da polícia. “Se num confronto morrerem três policiais e um cidadão, a mídia vai procurar crucificar o policial que realizou o disparo.”, defende o delegado.

Para os policiais fica a questão: Como trabalhar para pessoas que não confiam no seu trabalho?  Por mais que se fale mal da polícia, todo cidadão precisa dela e dos seus serviços, ainda mais nos grandes centros urbanos, em que a criminalidade costuma ser maior. O delegado Cláudio Roberto Matos dos Santos considera a população mal informada quando o assunto é polícia, não sabendo diferenciar entre polícia civil e militar ou o policiamento ostensivo do investigativo, a própria mídia não sabe muitas vezes o que está dizendo. “Se quem fala mal acha que está fazendo o melhor, quem somos nós para criticar?”, concluiu.

SORRIA, VOCÊ ESTÁ SENDO FILMADO!

Posted in Segurança Pública by micheletavares on 19/10/2009

Depois de instaladas no centro de Aracaju, câmeras de monitoramento chegam aos bairros 13 de Julho e Salgado Filho

Por Anne Samara Torres

(Cel. Salvador Sobrinho, comandante do Policiamento Militar da Capital e diretor do Centro Integrado de Operações em Segurança Pública) /Fotografia: Anne Samara Torres. Cel. Salvador Sobrinho (Foto:Anne Samara)

A Secretaria de Segurança Pública do Estado de Sergipe (SSP/ SE) deu início, em abril deste ano, ao projeto de acompanhamento eletrônico nos bairros de maior comércio da capital com a instalação de 16 câmeras no centro da cidade para servir como auxiliar da polícia no combate aos furtos e ao tráfico de drogas. No começo deste mês, esse projeto foi ampliado aos bairros 13 de Julho e Salgado Filho e, segundo a polícia, deverá ainda atingir as localidades da Coroa do Meio, Atalaia, Jardins e Siqueira Campos.

De acordo com o comandante do Policiamento Militar da Capital e diretor do Centro Integrado de Operações em Segurança Pública (Ciosp), Cel. Salvador Sobrinho, as câmeras, posicionadas em locais estratégicos, captam e transmitem as imagens em tempo real e 24 horas por dia aos monitores da Ciosp que conta com um grupo de profissionais treinados para observar tudo o que acontece nas ruas e, em casos suspeitos, enviar uma equipe de policiamento para o local. “Esse patrulhamento visual, que já é utilizado em quase todo o Brasil, é uma tendência que veio para ficar, pois permite a visualização de áreas onde a polícia não está presente, além de ajudar em investigações e no policiamento ostensivo e preventivo”, explica o coronel.

Para o Sargento Dantas, da Polícia Militar de Sergipe (PM/SE), que está há 26 anos na academia, o vídeomonitoramento representa uma nova era no que diz respeito à segurança pública. Quando eu entrei pra polícia não

(Quartel da PM) /Fotografia: Anne Samara Torres.

(Quartel da PM) /Fotografia: Anne Samara Torres.

existia a Cavalaria, Polícia de Choque nem CPTUR. Antigamente, todos os carros saiam daqui (Quartel da PM) o que demorava a chegar no local denunciado. Com esse novo sistema podemos checar com mais precisão as áreas suspeitas e identificar mais rapidamente os envolvidos”, comenta.

No entanto, o sargento também diz que apenas o monitoramento não é eficaz por si só, e que é preciso um número considerável de agentes para que os órgãos de segurança ajam de forma mais satisfatória. “O que acontece hoje, é que a quantidade de policiais é pequena para uma grande área de patrulhamento”, diz.

E essa opinião não é inerente apenas ao sargento. Moradores e comerciantes desses bairros reclamam da falta de policiamento, como é o caso das aposentadas Aldacy Sobral, 66 anos, e Valdete da Silva, 63 anos, moradoras respectivamente dos bairros Salgado Filho e 13 de Julho, que, ao mesmo tempo, se agradam com a chegada do monitoramento eletrônico. “Eu não me incomodo com as câmeras. Eu não tenho nada a esconder, quem têm que se incomodar são os bandidos” afirma Aldacy. Já para a senhora Valdete, os assaltos são freqüentes, principalmente aos aposentados. “Os ladrões vêm roubando os aposentados porque sabem quando a gente entra no banco para sacar dinheiro”, diz ela.

(Câmera no bairro Salgado Filho) /Fotografia: Reinaldo Gasparoni.

(Câmera no bairro Salgado Filho) /Fotografia: Reinaldo Gasparoni.

Não muito diferente, a gerente Karine Valois, 25 anos, reclama dos furtos diários que acontecem na Farmácia Pague Menos em que trabalha, localizada no bairro 13 de Julho. Ela é mais uma das comerciantes que contam com empresas particulares de segurança para garantir uma maior tranqüilidade. “Câmeras são uma boa idéia, mas elas não banem os crimes, apenas identificam os criminosos. É preciso uma maior demanda de policiais”, conta. 

Ainda assim, não é possível negar que a implantação desse novo sistema de monitoramento eletrônico ajudará muito a polícia na solução e até na prevenção de crimes. E os resultados já começaram a parecer com a prisão de uma quadrilha de traficantes de drogas e de outra acusada de roubo de pneus. Desse modo, a aliança entre forças policiais e tecnologia operacional parece ter sido um bom investimento quando juntas buscam reforçar a segurança e a justiça na sociedade aracajuana.